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14.10.10

O LABIRINTO - a propósito da aplicação desenvolvida pela ATX Software para o Ministério da Educação


Há cada vez mais professores a candidatarem-se a horários lectivos através da Bolsa de Recrutamento ou de concursos por Oferta de Escola. A Aproted – Associação de Professores de Teatro-Educação analisou a aplicação electrónica que estes professores utilizam para se candidatarem.

O aplicativo em causa foi desenvolvido pela ATX Software (Rua Saraiva de Carvalho 207C, 1350-300 Lisboa, Telefone 210 120 500, Fax 210 120 555) para a Direcção Geral de Recursos Humanos da Educação. Enquanto cidadãos, temos o dever de perguntar: houve concurso público ou foi feito um ajuste directo? Quanto custou esta aplicação? De certeza que não era possível arranjar nada melhor?

Sejamos francos e directos: a aplicação desenvolvida pela ATX Software é medíocre. Se os milhares de professores que a utilizam tivessem escolha, não a utilizariam. Se não fosse o Estado a comprar aquilo, ninguém compraria. Se a DGRHE tivesse um mínimo de critério, teria escolhido coisa melhor. E o mais triste é que é bem possível que a falta de qualidade da aplicação se deva às orientações dadas pelo próprio ME.

Qualquer pessoa que tenha um mínimo de conhecimentos e prática de programação sabe que uma aplicação deve ser pensada, antes de mais, do ponto de vista do utilizador. Vejamos então em pormenor onde falha a aplicação da ATX Software:

- A aplicação esteve, pura e simplesmente, sem funcionar, durante alguns dias do mês de Setembro;

- Quando escolhemos a opção “candidatar”, temos acesso aos concursos disponíveis; é possível filtrar esta informação pelo código da escola, pelo tipo de necessidade (Grupos de Recrutamento, Técnicos Especializados, Desenvolvimento de Projectos), pelo número de horas do referido concurso e pelo Quadro de Zona Pedagógica. Será possível que ninguém se tenha lembrado de filtrar a informação por disciplina?

- Temos logo abaixo uma grelha com os concursos disponíveis, com as seguintes colunas: Código (da escola), Nome (da escola), Tipo de Necessidade, Horas, Grupo, Final da Candidatura, Concelho e QZP. Não ocorreu a ninguém que pudesse estar neste quadro a disciplina (ou disciplinas) a que se refere o concurso. Se, a título de exemplo, um licenciado em Turismo quiser candidatar-se a disciplinas ligadas à sua formação num determinado QZP (Lisboa, por exemplo), tem de consultar todos os anúncios destinados a técnicos especializados da referida zona. Se um Animador Sociocultural pretender procurar concursos de Desenvolvimento de Projectos, terá de ver todos os concursos deste âmbito, mesmo que nada tenham a ver com a área que pretende. Era tão simples colocar na coluna do “Grupo” o nome das disciplinas a que o concurso se refere. Porque não o fazem? Acham que os candidatos têm muito tempo disponível?

- Uma outra forma de filtrar a informação é através do número de horas. Se quisermos ver todos os horários, basta-nos deixar este campo em branco. Se quisermos ver apenas horários com “X” horas, preenchemo-lo. Mas se quisermos – e esta é obviamente a situação mais comum – ver todos os horários com mais de X horas, ou entre X e Y, não temos essa opção. Pensem como os utilizadores! Um professor pode decidir candidatar-se apenas a horários com mais de 11 horas, por entender que os outros não são monetariamente compensatórios. Um outro professor pode desejar candidatar-se apenas a horários entre 10 e 15 horas. Como pode procurá-los rapidamente?

- E já agora, porque será que na lista dos horários disponíveis continuam a aparecer os horários a que já nos candidatámos? Qual é a intenção? Confundir as pessoas?

- Quando seleccionamos um horário para nos candidatarmos, porque não há campos preenchidos automaticamente? Se um dos critérios for “Habilitações”, porque não aparecem os dados que colocámos na secção de dados pessoais? Porque será que critérios como “Entrevista” requerem que o candidato escreva algo? O que podemos escrever? O “resultado” da entrevista que ainda não aconteceu?!

- Antigamente, quando nos candidatávamos a um concurso, podíamos imprimir um comprovativo; curiosamente, essa opção, que conferia maior transparência a todo o processo, desapareceu.

- Quando consultamos as candidaturas, não é possível filtrar a informação para vermos só os concursos cujo resultado já foi decidido ou só aqueles que ainda se encontram em processo de análise (esta era óbvia).

- É curioso que o campo “Estado da Candidatura” indique apenas o número da pessoa seleccionada. Como é que um número nos permite saber se o concurso decorreu de forma idónea? Não sabemos quem foi seleccionado, quem o seleccionou, não há listas de graduação, não há um mínimo de transparência.

- Também não existe qualquer opção para “Recorrer” ou para “Denunciar” situações ilegais em concursos.

A juntar a tudo isto, há uma ausência de apoio aos candidatos e uma ausência de responsabilização tanto pela parte da DGRHE como da ATX Software. Quem ajuda os candidatos com dúvidas? Quem se responsabiliza pelo facto de um candidato não conseguir aceder à aplicação durante vários dias seguidos, o que o impossibilita de se candidatar ou aceitar um horário para o qual foi seleccionado?

Uma aplicação informática não pode ser estudada e desenvolvida de forma leviana. Há demasiados professores, demasiados alunos, demasiadas escolas que dependem do seu bom funcionamento. Por estes motivos, solicitamos:

- Que o governo ou a Assembleia da República legisle no sentido de promover uma maior transparência nos concursos por oferta de escola e de acabar com o limite máximo das 11 horas por horário;

- Que a Direcção Geral de Recursos Humanas da Educação tome providências no sentido de dar orientações que visem melhorar o funcionamento da aplicação informática e dos concursos;

- Que a ATX Software proceda às alterações necessárias no sentido de melhorar a qualidade da aplicação informática que desenvolveu para estes concursos (afinal de contas, uma multinacional deveria ter mais brio no seu trabalho);

- Que a Direcção Geral de Recursos Humanos (ou a ATX Software) crie números de telefone e postos de apoio (em escolas ou outros edifícios da DGRHE) para ajudar os candidatos que têm dúvidas ou simplesmente, não conseguem candidatar-se, por motivos que lhes são inimputáveis.

Lisboa, 05 de Outubro de 2010

A Direcção da APROTED