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14.12.06

Debate* - O Teatro-Educação e o Ensino Artístico Generalista no Sistema Educativo








Livraria Almedina – Lisboa - Atrium Saldanha
Sábado, 16 de Dezembro, às 15h
Organiza APROTED











Intervenientes:
Amílcar Martins – Universidade Aberta
António Silva – Escola Secundária Stª Maria - Sintra
Domingos Morais – Escola Superior de Teatro e Cinema
Fernando Rebelo – Escola Secundária Cacilhas -Tejo
Firmino Bernardo – Escola Secundária c/ 3º ciclo do Pinhal Novo
Lucília Valente – Universidade de Évora
Manuel Almeida e Sousa – Escola Secundária de Passos Manuel




PAINEL 1.
Como foi acolhido o teatro-educação pelo sistema educativo?

-O percurso e implantação do teatro/expressão dramática enquanto disciplina curricular nas escolas.

- Os modelos de contratação, carreira profissional e tipos de formação dos professores da área do teatro-educação.

PAINEL 2.
Como se poderá melhorar o ensino artístico generalista?

- Ao nível da formação e perfil de saída de professores para o ensino artístico.

- Na organização curricular, generalização e continuidade das disciplinas artísticas ao longo dos vários ciclos de ensino.

- No enquadramento institucional e carreira dos professores de artes.

- Ao nível dos espaços e equipamentos.

* No âmbito do Debate Nacional Sobre a Educação

APROTED- Associação de Professores de Teatro-Educação
Rua Cidade da Horta, nº 54 – 2º Direito 1000-103 Lisboa
http://pwp.netcabo.pt/aproted/
http://www.teatronaeducacao.blogspot.com/
Contacto: António Silva -Telef.: 960067523


26.11.06

Irregularidades nas contratações por oferta de escola


APROTED – Associação de Professores de Teatro Educação
Rua Cidade da Horta, nº 54 – 2º dtº 1000-103 Lisboa
teatronaeducacao@gmail.com
http://pwp.netcabo.pt/aproted



O Ministério da Educação anunciou que vai dar autonomia às escolas na contratação de docentes para determinadas disciplinas. Os responsáveis ministeriais não criaram, previamente, quaisquer critérios quanto à habilitação académica e pedagógica que os professores devem possuir relativamente às disciplinas que vão leccionar.
Tendo presente a mensagem de sua Excelência o Presidente da República do passado dia cinco de Outubro, e sabendo-se da “tradição” dos intervenientes nos actos administrativos para contornarem o espírito da lei, os princípios da administração aberta, bem como o seu “natural” desinteresse na defesa da coisa pública, não compreende a APROTED a aparente ingenuidade do Ministério da Educação ao introduzir este novo modelo de contratação sem ter tomado as devidas precauções quanto à defesa do interesse público e da qualidade de ensino nas escolas do Estado.
No fundo, a dita autonomia trouxe fundamentalmente a desresponsabilização do Ministério da Educação na fiscalização dos actos administrativos das escolas, e consequente boa ou má utilização do erário público, bem como o fim, legal, da avaliação da qualidade do ensino ministrado nos estabelecimentos de ensino do país, atribuições que lhe competem.
Fiscalização e avaliação que, embora previstas na Lei, e como foi reconhecido recentemente pelos responsáveis do Ministério, nunca foi verdadeiramente exercida, dando as direcções regionais aval à generalidade das propostas das escolas, mesmo que contrárias à lei e à qualidade do ensino.
O presente documento sobre as irregularidades nos concursos de Técnicas Especiais, área do Teatro-Educação, serve, a priori, para exemplificar quais irão ser os resultados do novo modelo de contratação que o Ministério recentemente anunciou.
As centenas de professores a leccionarem sem habilitação as disciplinas de teatro e o paupérrimo estado da educação artística no nosso sistema de ensino, exemplificam-no, como veremos.
No fundo, este “modelo” de contratação agora anunciado como inovador na autonomia das escolas já existia. Era ilegal, injusto, proporcionou o clientelismo, a falta de qualidade no ensino e o insucesso dos alunos. O Ministério da Educação tornou-o “legal”.
O documento abaixo, organizado pela APROTED – Associação de Professores de Teatro Educação, teria, pensamos, um impacte diferente, com evidentes custos políticos, caso a sociedade não tivesse já interiorizado a tolerância e conformismo perante as ilegalidades e mau funcionamento da Administração Pública. É visível a impunidade e, também, a passividade, cooperação e cumplicidade do Estado perante os que usam os poderes públicos para benefício de particulares. Isto é, a confirmação da falência da Justiça na Administração Pública.
Mas o que de mais degradante se revela no documento é a conhecida, mas não assumida, tendência para inverter o espírito da lei que se generalizou no país por parte dos administradores do Estado. O importante, como todos já sabemos, não é cumprir a lei mas antes arranjar um estratagema que possibilite o seu incumprimento e oculte a ilegalidade.
É a falta de ética e o mau exemplo dos administradores da coisa pública, mais do que as injustiças e ilegalidades sobre os professores de Teatro, que sobressaem no nosso documento.


APROTED – Associação de Professores de Teatro Educação,
Comissão Instaladora

Análise dos concursos de horários por Oferta de Escola, Técnicas Especiais área de Teatro-Educação, lançados pelo Ministério da Educação.

1. Fez a APROTED - Associação de Professores de Teatro Educação, uma análise do modo como decorreram os concursos em epígrafe relativamente ao ano lectivo de 2005/2006 e 2006/07 (ainda a decorrer) tendo constatado o seguinte:

1.1. As designadas Técnicas Especiais englobam disciplinas para as quais não existe um grupo de docência/recrutamento, pelo que não estão sujeitas ao Concurso Nacional de Docentes, sendo a escola que lança o concurso para contratação do professor, após o início do ano escolar, mediante parecer positivo da respectiva direcção regional de educação e, por vezes, do próprio Secretário de Estado da Educação.

1.2. Esta contratação tardia dos docentes de Técnicas Especiais é muito prejudicial para a qualidade do ensino e para um regular começo do ano lectivo nas escolas, havendo alunos que iniciam as aulas, nessas disciplinas, com cerca de dois meses de atraso.

1.3. É o próprio Ministério da Educação que não permite que os concursos para contratação de professores de Técnicas Especiais se realizem antes do início do ano lectivo.

1.4. Esta determinação do M. E. é contrária à boa gestão e planeamento das actividades escolares, tanto mais que as escolas, na quase totalidade, sabem antecipadamente os professores de Técnicas Especiais que vão necessitar no ano lectivo seguinte.

1.5. A determinação do Ministério Educação tem como único objectivo evitar, o máximo possível, a contratação de técnicos especiais, nem que para isso os alunos tenham de esperar, sem professor, que as Direcções Regionais verifiquem os resultados e implicações das colocações do Concurso Nacional de Docentes. O Ministério procura, depois, de toda e qualquer forma, que os docentes “sobrantes” dos grupos regulares do Concurso Nacional ocupem os horários dos técnicos especiais, mesmo que não tenham qualquer habilitação para tal e que os objectivos e conteúdos das disciplinas sejam totalmente distorcidos, fomentando o insucesso escolar e as fracas competências de saída dos alunos. Só em casos extremos, quando não há nenhum docente dos vários grupos disciplinares para leccionar, é que se recorre ao concurso de técnicos especiais por Oferta de Escola.

1.6. Mas, em muitos casos, o Ministério proíbe pura e simplesmente a contratação de professores de Técnicas Especiais. É no ensino artístico generalista do Básico (no Secundário já não existe ensino artístico) desprezado, e usado (em especial a dança e o teatro) pelo ME e pelo corporativismo dos grupos disciplinares regulares que a situação é mais confrangedora, como adiante melhor explanaremos.

1.7. A contratação por Oferta de Escola é regida por vários diplomas legais de forma que o concurso público se efectue segundo critérios de transparência, justiça, igualdade e imparcialidade, e no sentido de escolher o docente com melhor habilitações.

1.8. Relativamente aos horários por Oferta de Escola da área do Teatro-Educação, a APROTED detectou inúmeras e graves irregularidades, com vários atropelos à lei, pelo que estranha que tais ilegalidades se dêem e sejam sancionadas pelo próprio Ministério da Educação.

1.9. Constatámos que cerca de 95% dos horários da área do Teatro-Educação não foram submetidas a qualquer concurso público, como a legislação obriga.

1.10. Segundo dados da APROTED, existirão mais de 400 professores em todo o país, a leccionar disciplinas da área do Teatro-Educação sem terem sido contratados por concurso público e sem possuírem qualquer habilitação académica ( profissional, própria, ou suficiente) para leccionarem estas disciplinas.

1.11. No ínfimo número, cerca de 5% do total, dos horários por Oferta de Escola de Técnicas Especiais, área de Teatro – Educação, lançados a concurso público, surgem irregularidades várias que visam, ostensivamente, beneficiar um ou vários candidatos em detrimento de outros, bem como inúmeros “sistemas” de ocultação dos critérios de selecção, engendrados pelas Comissões Executivas das escolas, que impedem os candidatos de recorrerem das suas decisões.

1.12. A generalidade das escolas, contornando a lei, continua a não dar prioridade, na lista de graduação, aos candidatos que possuem habilitação profissional ou académica para a docência na área do Teatro-Educação.

1.13. Praticamente concluídos os concursos por Oferta de Técnicas Especiais para o presente ano lectivo, sabendo-se que há ainda um reduzido número de professores especialistas em Teatro-Educação no país e que existem centena de horários de teatro nas escolas, inacreditavelmente, uma grande parte destes profissionais ficaram desempregados. O ministério recusou, assim, profissionais habilitados que poderiam desenvolver um trabalho de qualidade no deficiente ensino artístico do nosso sistema educativo, oferecendo os horários a pessoas sem qualquer habilitação para leccionar a disciplina.

2. Especificação das principais irregularidades detectadas

2.1. Centenas de horários de área do Teatro-Educação não vão a concurso público e são “entregues” a docentes dos vários grupos disciplinares, que não tem formação académica para leccionarem essas disciplinas.

As escolas, geralmente, não chegam a lançar o concurso público para contratação de um professor de teatro, com as devidas habilitações académicas e profissionais, e integram as disciplinas da área do Teatro-Educação nos horários dos vários grupos disciplinares. O Ministério incentiva esta prática e há professores de todos os grupos disciplinares a leccionarem teatro, enquanto os professores habilitados academicamente para o exercício da profissão, com estágios pedagógicos proporcionados pelo próprio Ministério da Educação, não conseguem entrar nas escolas do Ensino Público, com óbvias repercussões na qualidade do ensino ministrado.
Esta prática generalizou-se e alargou-se a centenas de escolas por todo o país. Dá menos trabalho às comissões executivas que não têm, assim, que lançar o concurso e seleccionar os candidatos, mas demonstra completo desprezo pela qualidade do ensino ministrado aos seus alunos e pelo seu sucesso escolar.
Há professores que só quando chegam à escola em que foram colocados é que têm conhecimento de que vão ter de leccionar uma disciplina para que não têm habilitação académica, ou qualquer outra. A necessidade de emprego e de acumular tempo de serviço faz o resto.
Muitos professores “cansados” de leccionarem a disciplina para que têm habilitação profissional voltam-se para o teatro, havendo professores que há muitos anos “abandonaram” o seu grupo disciplinar para leccionarem esta disciplina, sem que tenham qualquer habilitação para tal.
Noutros casos, os docentes ainda sem vínculo nos seus grupos disciplinares fazem pressão junto das direcções das escolas para que lhes seja atribuído os horários de teatro de forma que consigam ir obtendo tempo de serviço até conseguirem vincular.
Por vezes, trata-se de uma mera questão prática. Sujeitos ao Concurso Nacional do seu grupo de recrutamento podem ser colocados em qualquer parte do país (ou mesmo não serem colocados, ou colocados com horário incompleto), deste modo sabem, antecipadamente, que têm um horário completo de teatro, normalmente numa escola junto do seu local de residência.
Estas “estratégias” prejudiciais ao sucesso escolar e ao prestígio, qualidade e objectivos da educação artística (cada vez mais, considerada como essencial para a formação do aluno e do cidadão), assumiu proporções tais que não iremos apresentar o exemplo de nenhuma escola em particular. Elas são recorrentes em centenas de escolas das cinco direcções regionais e com perfeito conhecimento, consentimento e incentivo do M.E..
Damos como exemplo a Escola 2º e 3º Ciclo c/ S de Cunha Rivara, em Arraiolos.
O Conselho Executivo e a Associação de Pais desejavam que fosse contratado um professor com habilitação profissional e pedagógica na área do Teatro-Educação, mas o Ministério não autorizou e impôs que fosse uma professora de português a dar a disciplina.


2.2. A não publicação dos horários de Oferta de Escola em jornal de expansão regional e nacional.

Mesmo nos poucos horários submetidos a concurso público por Oferta de Escola, verificámos que há irregularidades. O nº 2 do artigo 12.º da Portaria 367/98 com a redacção dada pela Portaria 1046/2004, estipula o seguinte: “A publicitação da oferta é feita mediante aviso, publicitado em jornal de expansão regional e nacional (…)”
Referimos a, título de exemplo, dois horários de escolas da D.R. E. Alentejo que foram publicados no Diário do Sul, jornal que não é, obviamente, de expansão nacional.
Também os dois concursos para horários que tivemos conhecimento de escolas da D.R.E Centro, através do site da mesma, não foram identificados na nossa análise diária aos jornais de expansão nacional.

2.3. A não publicitação dos horários a concurso na página electrónica das D R. Educação.

O nº 4 do Artigo 59 (Oferta de Escola) do D.- L. nº 20/2006, de 31 Janeiro refere que “Cada direcção regional de educação publicita, através da Internet, a lista de ofertas de emprego da respectiva área territorial, pelo prazo de cinco dias a contar do seu envio pelas escolas (…)”.
Contrariando o disposto, a Direcção Regional de Educação de Évora só muito tardiamente fez anúncio de alguns dos horários de Oferta de Escola da área do Teatro Educação. Os horários que no ponto anterior fizemos referência, não constavam no site da DREAlentejo.

2.4. As escolas não procedem à notificação dos candidatos da lista final de graduação.

A generalidade das escolas não procede à notificação dos candidatos da afixação da lista de candidatos, nem tão pouco os informa dessa afixação através dos actuais meios rápidos de telecomunicações: telefone, fax, e-mail.
Contudo, no nº 5 do Artigo 12.º da Portaria 367/98, de 29 de Junho, com a redacção dada pela Portaria 1046/2004, de 16 Agosto, pode ler-se: “ Terminado o período de apresentação de candidaturas, o órgão de gestão referido no nº1 procede à graduação dos candidatos, afixa a lista e notifica os candidatos da sua afixação.”


2.5. As direcções regionais de educação também não procedem à publicitação da lista graduada de candidatos.

As direcções regionais deveriam publicitar nas respectivas páginas web a lista graduada de candidatos, conforme estipulado no nº 4 do artigo do Artigo 59.º do Decreto –Lei nº 20/2006: “Cada direcção regional de educação publicita, através da Internet ( …) a lista das correspondentes colocações com indicação dos candidatos e respectiva graduação.” A APROTED não conseguiu encontrar qualquer informação sobre a colocação e graduação dos candidatos nas páginas electrónicas das cinco direcções regionais. Esta ocultação das listas de graduação (não esquecendo, obviamente, as centenas de horários que não chegam a vir a concurso) é muito perniciosa pois impede, na prática, os candidatos de saberem a sua graduação e/ou apresentarem recurso hierárquico.

2.6. As escolas não seleccionam e graduam os candidatos de acordo com o preceituado no artigos 13º, 14º, 15º e 16º do DL nº 20/2005, usando os mais díspares e estranhos “critérios” de selecção.

Da nossa análise, depreendemos que a generalidade das direcções das escolas criam critérios no único sentido de contratar o professor que leccionou a disciplina no ano anterior, independentemente de surgirem candidatos com melhor habilitação académica e profissional. Contudo, o DL 20/2005 não estabelece diferença no método de graduação, quanto a horários de Oferta de Escola, entre disciplinas dos vários grupos de docência e as de técnicas especiais. O método é igual para todos os horários de Oferta de Escola e deve ser dada prioridade aos candidatos com habilitação profissional, seguido dos candidatos com habilitação própria. Ora, sabendo-se que existem professores profissionalizados na área do teatro educação, bem como diversos cursos superiores na área do teatro e teatro-educação, a generalidade das escolas fere o espírito da lei e a despeito dos mais elementares critérios de justiça e isenção, “contornam” os concursos de forma a “darem” o horário a um dado candidato previamente escolhido.

Apresentamos, a título de exemplo, o anúncio da Escola Secundária D. Pedro V, do ano transacto, para um horário de Oficina de Expressão Dramática. No anúncio não era indicado qualquer enquadramento legal e os critérios de selecção eram, unicamente, os seguintes:
- Continuidade pedagógica;
- Análise Curricular.
Ora, com semelhante critério, “continuidade pedagógica”, o horário será sempre atribuído ao professor do ano transacto, mesmo que este não tenha qualquer habilitação para leccionar a disciplina, o que é frequente.

Um outro exemplo bem elucidativo, já no concurso do presente ano, é o da Escola Secundária André de Gouveia, em Évora. A escola começou por lançar um concurso para um Técnico Especial da área do Teatro. O anúncio foi feito apenas no jornal Diário do Sul e esteve aberto apenas por um dia. O primeiro candidato da lista graduada foi o professor do ano anterior. Após recursos hierárquicos, por várias ilegalidades, para a Direcção Regional, é lançado novo concurso, apenas com publicação no Diário do Sul, mas aberto por cinco dias úteis, como é de lei. Na lista graduada elaborada pela escola consta, de novo, em primeiro lugar o professor que leccionou no ano anterior e que não tem habilitação profissional para a docência na área do teatro. Surgem, também, candidatos com habilitação profissional atrás de candidatos que a não têm, pelo que são incompreensíveis os critérios de graduação usados por esta escola, sendo óbvio que não foram os previstos no D.L. nº 20/2005.

2.7. O método de selecção, critérios e documentação a apresentar, publicados no aviso de abertura pelas escolas, não são, depois, os efectivamente aplicados na graduação dos candidatos

Inúmeras escolas apresentam, nos avisos de abertura do concurso, os métodos de selecção previstos no D.L. nº 20/2006, onde é dada prioridade aos candidatos com habilitação profissional para a docência, mas posteriormente graduam os candidatos segundo critérios diferentes. Como já referimos, quase sempre de forma que o professor do ano transacto fique em primeiro lugar na lista de ordenação.

Apresentamos, como exemplo, a Escola Secundária c/3º ciclo Anselmo de Andrade, em Almada. No anúncio de abertura surge como método de selecção: “graduação nos termos dos art.º 14º, 15º e 16º do D.L. nº 20/2006 de 31 de Janeiro” e como documentos a apresentar: “certificado de habilitações; declaração de tempo de serviço”. Ora, perante tais requisitos deveriam ser graduados em primeiro lugar os docentes com habilitação profissional e, entre estes, aqueles que tivessem melhor média profissional. Mas o Conselho Executivo graduou em primeiro lugar o professor do ano transacto, que não tem habilitação académica na área do teatro, nem do teatro-educação, embora existissem vários professores com habilitação profissional em Teatro-Educação.
Os critérios de selecção apresentados por esta escola são dos mais “curiosos” que nos têm chegado, e, em alguns itens, e em nossa parecer, claro, parecem ter sido concebidos por pessoas desconhecedoras do que é a didáctica do teatro-educação. Atentemos:
“ Experiência pedagógica:
Leccionação da disciplina de OED/TEC/Teatro em escolas secundárias (mais de três anos de experiência) e responsável pelas elaborações de provas de exame. 6 pontos.
- Leccionação da disciplina de OED/TEC/Teatro em escolas secundárias (mais de três anos de experiência). 4 pontos (…)”

Os “critérios” seguintes são, em nosso entender, inconcebíveis. Pede-se a priori, e sem nada mencionar na documentação a apresentar, o que, quanto muito ( e temos fundamentadas razões para duvidar) poderia ser avaliado a posterior.
“Experiência Profissional:
- Encena peças específicas da disciplina, relacionadas com o Plano de Actividades da Escola, dinamizando a comunidade escolar e envolvente, estabelecendo parcerias – 6 pontos
- Encena peças específicas da disciplina, relacionadas com o Plano de Actividades da Escola, dinamizando a comunidade escolar e envolvente. – 4 pontos
- Encena peças específicas da disciplina, relacionadas com o Plano de Actividades da Escola . – 2 pontos
- Encena peças específicas da disciplina – 1 ponto (…)”

A APROTED indaga, ainda: Não têm as disciplinas a concurso por esta escola (TEC e OT) um programa a nível nacional aprovado pelo Ministério da Educação que o professor deve seguir? Será o objectivo destes programas “encenar peças”?!!! E recorda: não era só solicitado aos candidatos o certificado de habilitações e a declaração do tempo de serviço?

2.8. O uso do concurso público como mero expediente para contornar a lei e o espírito da administração aberta

Salvo honrosas excepções, e como facilmente se depreende pelo exemplo anterior, o concurso público não é lançado de forma a escolher o candidato com melhores habilitações, mas antes, no sentido inverso, de criar condições para que a escolha recaia obrigatoriamente sobre o candidato previamente escolhido, e de molde a que o conselho executivo não possa ser acusada de irregularidades. Só assim se compreende que para disciplinas com o mesmo currículo a nível nacional, existam tão variados e obscuros critérios de selecção e graduação dos candidatos.

Um exemplo claro do uso viciado dos concursos é-nos dado, também, na escola Secundária André de Gouveia, em Évora, em que antes da abertura público do concurso, os horários distribuídos aos alunos já continham o nome do professor, que depois, “naturalmente”, veio a ser seleccionado pelo Conselho Executivo da Escola.

2.9. A tentativa de ocultação das reais habilitações para a docência do Teatro - Educação

A habilitação para a docência implica uma formação de base prolongada na área específica (licenciatura) e, para os professores profissionalizados, o respectivo estágio pedagógico (um ano lectivo). A APROTED constatou que há um crescente número de candidatos que, tendo leccionado a disciplina durante vários anos sem a devida formação de base, procuram manter a contratação recorrendo a diplomas de estudos pós-graduados ou mesmo mestrados na área do teatro-educação, pretendendo, assim, ter prioridade sobre os candidatos com habilitação de base adequada, o que não é legítimo.
Da análise do currículo de alguns desses estudos pós-graduados constatámos que eles decorrem, normalmente, durante um ano lectivo, com uma carga horária semanal muito reduzido, sendo, a generalidade, eminentemente teóricos, pelo que não poderão, obviamente, dar habilitação para a docência do Teatro – Educação, tanto mais que já existem várias licenciaturas especializadas em teatro e educação e uma dezena de cursos superiores que oferecem licenciaturas na área do Teatro.

2.10. O não cumprimento, no caso de recursos hierárquicos, das normas de procedimento administrativo legalmente previstas, por parte das direcções regionais de educação.

Nos recursos hierárquicos interpostos por opositores para os directores regionais de educação, de que tivemos conhecimento, não foram cumpridos pelos mesmos, salvo melhor opinião, as mais elementares normas que regulam os actos administrativos, nomeadamente a notificação dos contra-interessados prevista no Artigo 171.º do Código de Procedimento Administrativo.

2.11. As escolas não afixam os critérios de selecção que serviram de base a lista de ordenação dos candidatos e recusam-se a mostrá-los aos opositores ao concurso, impedindo a fundamentação de recursos.

A generalidade das escolas não gradua os candidatos segundo os métodos de selecção publicados no aviso de abertura do concurso e cria outros critérios que mantêm escondidos, não os afixando e recusando-se a mostrá-los aos candidatos que os solicitam.
A Escola Secundária de D. Dinis, em Lisboa, não fez a graduação nos termos do DL 20/2006, conforme publicou no anúncio do Diário de Notícias de 26 de Setembro. Um opositor ao concurso indagou o Conselho Executivo no sentido de saber porque não tinha sido cumprida a lei. A direcção respondeu que tinham seguido os critérios da escola. O candidato pediu que lhe mostrassem esses critérios mas a direcção recusou-se obrigando-o a requerer o pedido formalmente nos serviços Administrativos, para apreciação posterior. Esta atitude demonstra, só por si, a consciência da ilegalidade cometida por parte do Conselho Executivo, caso contrário não teria qualquer reserva em mostrar os critérios, como o exige o espírito da Administração Aberta e as próprias regras do funcionalismo público.
Um outro exemplo é o da já conhecida Secundária André de Gouveia, em Évora. Obrigada a realizar um segundo concurso, após os recursos hierárquicos interpostos no primeiro, certamente por determinação da DREAlentejo, por erro grosso, lança um segundo concurso e “dá” o horário ao mesmo professor do concurso anterior. Um candidato solicita que lhe seja mostrada a documentação relativa ao concurso para basear o seu recurso, conforme previsto no Código de Procedimento Administrativo. A Escola diz que necessita de dez dias para poder mostrar a documentação ao requerente ( o prazo máximo previsto no CPA). Como a portaria que regulamenta os concursos obriga que os recursos sejam interpostos no prazo de cinco dias após a saída da lista de graduação, o candidato teve de desistir do recurso pois não teve possibilidade de aceder à documentação que o permitia fundamentar.

2.12. As DRE e o Secretário de Estado da Educação não autorizam as escolas a contratar professores de teatro e obrigam, para que haja oferta da disciplina, que seja leccionada por professores do Quadro de Escola, mesmo sabendo que não têm habilitação para tal.

Os alunos, em geral, gostam de praticar o jogo dramático. Em muitas escolas organizam-se e pedem no Conselho Executivo que abra ou alargue a oferta de teatro. As escolas fazem o pedido mas o Ministério, quase sempre, indefere o pedido. Só o autorizando se a disciplina for dada por professores do Quadro de Escola, dos grupos disciplinares regulares que, obviamente, não têm qualquer formação em teatro. Este aspecto, da habilitação profissional para a docência, essencial para a qualidade do ensino, parece não ter qualquer importância para o nosso Ministério da Educação.
Na Escola Básica 2º e 3º Ciclo, N.º 2, de Elvas, o Conselho Executivo e a Associação de Pais pretendiam um professor especializado de Teatro-Educação para leccionar a Oficina de Teatro, horário de 6 horas. Efectuado o pedido, o Secretário de Estado indeferiu-o só permitindo a abertura da disciplina se leccionada por um professor da escola.
Várias possibilidades existem para este Conselho Executivo:
Não consegue “convencer” nenhum professor a dar a disciplina e ela não é oferecida aos alunos;
Consegue que um professor da escola leccione a disciplina. Imaginemos um professor de Geografia. Neste caso, a escola vai ter de recrutar um professor do concurso nacional ou abrir concurso para um horário de Oferta de Escola, 7 horas de Geografia, para leccionar as turmas do professor que ficou com o teatro. Um absurdo.


3. Análise da situação

3.1. A APROTED – Associação de Professores de Teatro Educação, realça a relativa transparência com que foram publicitados os concursos na D.R.E. Algarve e D R. E. de Lisboa e estranha o diminuto número de horários a concurso na D.R.E. Norte, D.R.E Centro e na D.R.E. Alentejo, sabendo-se que nesta última houve concursos publicitados em jornal que nunca chegaram a constar no site da direcção regional.

3.2. Considera como positivo o facto da a generalidade das escolas aceitarem candidaturas através de fax e ou e-mail.

3.3. Considera negativo o facto de a generalidade das escolas não afixarem os critérios de selecção, não publicarem lista graduada de candidatos nas suas páginas electrónicas e não notificarem, ou informarem, os candidatos da afixação das mesmas.

3.4. Verificou que os critérios de selecção apresentados por a generalidade dos conselhos executivos demonstram uma notória falta de conhecimento relativamente às questões técnico-artísticas e pedagógicas do teatro na educação.

3.5. Enaltece a atitude dos poucos Conselhos Executivos que não cederam a pressões corporativas e outras e graduaram os candidatos de acordo com as normas vigentes, dando prioridade aos candidatos com habilitação profissional, pugnando pela justiça e pela qualidade do ensino oferecido aos seus alunos.
(Independentemente de existirem outras escolas com posição semelhante, gostaríamos de salientar o exemplo dado pela Escola Secundária D. Luísa de Gusmão, em Lisboa, já no concurso do ano transacto, e da Escola Secundária de Albufeira, no presente ano).

3.6. Manifesta a sua indignação relativamente às centenas de conselhos executivos que, cedendo ou não, a pressões corporativas ou individuais, a recomendações superiores veladas, ou não, alhearam-se do estipulado na lei e deram prioridade a professores sem habilitação, em detrimento de candidatos habilitados profissionalmente, menosprezando a qualidade do ensino ministrado aos alunos sob sua responsabilidade.

3.7. Manifesta estranheza e indignação pelo reduzidíssimo número de horários a concurso da disciplina de Oficina de Teatro do 3º Ciclo do Ensino Básico e não compreende o alcance e objectivos dos directores regionais e do Secretário de Estado da Educação que proíbem as escolas de contratar técnicos especiais na área do Teatro-Educação, em total desprezo pelas disciplinas curriculares do ensino artístico, pela lei, e pela qualidade do ensino.
Tanto mais incompreensível se torna a decisão porque é dispendida uma verba maior por parte do erário público e há menor qualidade no ensino ministrado aos alunos.

3.8. Considera que a viciação generalizada e já “natural” das regras do concurso por parte das escolas se deve à actuação negligente das direcções regionais de educação e do M. E. na fiscalização e aprovação destes concursos, bem como a uma “tradicional” cultura de contorno da lei, instalada nas escolas e na Administração Pública , onde parece reinar a falta de isenção e se usam poderes públicos para benefício de determinados particulares.
O próprio Ministério da Educação confirmou a sua total inoperância na fiscalização da legalidade dos concursos e na defesa da qualidade do ensino, ao afirmar que a ida dos processos elaborados pelas escolas às direcções regionais é uma mera formalidade, pois, na prática, sanciona todas as propostas das escolas (mesmo que ilegais e prejudiciais ao ensino).

3.9. O que o Ministério pretende fazer, ao permitir, brevemente, a livre contratação dos docentes por parte das escolas é, no fundo, a legalização da ilegalidade, e a afirmação, mais uma vez, da falência da fiscalização do Estado nos actos da Administração Pública e a promoção da má gestão, ilegalidade e injustiça.

3.10. A tão elogiada futura autonomia das escolas na contratação de professores e os seus anunciados sucessos, podem ser avaliados, já hoje, no modo anárquico e fraudulento como são contratados os professores da área do teatro-educação e na própria existência decrépita da nossa educação artística, apesar de os portugueses continuarem a pagar, há décadas, para que os alunos tenham formação artística de qualidade nas escolas públicas.

4. A APROTED conclui, pois, que o aproveitamento indevido das disciplinas da área do Teatro-Educação, com a usurpação desses horários como mero expediente para se alcançar um lugar de docência no ensino público é inaceitável, injusto e desprestigia o importante papel das disciplinas artísticas na educação.
Tendo atingido o “fenómeno”, em nosso entender, uma escandalosa amplitude nacional sem que nada seja feito pelo ME para repor a injustiça e a seriedade nos concursos, antes pelo contrário, prepara-se para legalizar a situação.

A APROTED – Associação de Professores de Teatro – Educação, propõe:

4.1. Que o Ministério da Educação e as escolas não continuem a servir-se das disciplinas da educação artística, e do Teatro-Educação em particular, como expediente para solucionar o excesso de docentes dos vários grupos disciplinares, em total desprezo pela educação artística, qualidade de ensino ministrado e sucesso dos alunos, devendo dar a estas disciplinas e seus docentes a mesma dignidade, estatuto e regras das outras disciplinas curriculares.

4.2. Que o Ministério da Educação abandone a perspectiva retrógrada de que a educação artística é apenas para uma pequena elite, implantando no sistema de ensino do país uma formação artística generalista de qualidade, conforme consignado na Lei de Bases do Sistema Educativo, não continuando a desperdiçar o erário público alimentando a existência de um “ensino artístico” ineficaz, sem qualidade, e onde os melhores profissionais são impedidos de leccionar.

4.3. Que os concursos de Técnicas Especiais passem a ser realizados antes do início do ano lectivo de forma que o ano lectivo tenha um início regular, contribuindo para o sucesso escolar.

4.4. Que sejam apuradas responsabilidades relativamente às ilegalidades referidas neste documento e que o Ministério crie uma Comissão especializada para averiguar as condições em que foram atribuídos os horários da área do Teatro- Educação em centenas de escolas do país.

4.5. Que, mais uma vez, os responsáveis pela violação da lei e da má gestão da coisa pública não fiquem impunes, continuando a contribuir para o desprestígio do Sistema Educativo, da Administração Pública, da Justiça e das próprias instituições democráticas, conforme alertou, recentemente, sua Excelência o Presidente da Republica.

4.6. Que sejam lançados a concurso público todos os horários da área do Teatro – Educação, para o presente ano lectivo, que ilegalmente foram atribuídos a docentes que não se submeteram a este procedimento legal e obrigatório.

4.7. Que as listas de graduação elaboradas pelas escolas tenham em atenção a habilitação profissional dos docentes, como é de lei, e não outros critérios “avulso”.

4.8. Que as listas de graduação que, já no presente ano lectivo, não atenderam ao método de graduação previsto no D.L. 20/2006 sejam consideradas nulas e haja uma nova ordenação dos candidatos.

4.9. Que todos os candidatos sejam notificados da afixação das listas de graduação dos concursos a que concorreram, como é de lei.

4.10. Que as DRE cumpram o estipulado relativamente às publicitações dos concursos e listas de graduação através das suas páginas na Internet.

4.11. Que as escolas se pautem pela isenção, seriedade e transparência na selecção dos candidatos, não ocultando ou dificultando o acesso aos documentos e critérios do concurso aos opositores e recorrentes do mesmo.

4.12. Que a fim de evitar situações idênticas, já no próximo ano lectivo sejam criados grupos de recrutamento/docência para as disciplinas artísticas onde ainda não existem (Teatro-Educação e Dança) e que os docentes sejam sujeitos a um concurso nacional, com critérios únicos, definidos por especialistas do M.E., e uniformemente aplicados, como acontece com as demais disciplinas curriculares.

5. A APROTED aconselha todos os candidatos que se sintam lesados por incumprimento das normas que regulamentam os concursos por Oferta de Escola a apresentarem recurso hierárquico e, se não atendidos, a recorrerem para o competente tribunal administrativo.

Lisboa, 14 de Outubro de 2006
APROTED – Comissão Instaladora

10.6.06

A PRESENÇA do TEATRO/EXPRESSÃO DRAMÁTICA na EDUCAÇÃO - Isabel Bezelga





A evolução da expressão Dramática/Teatro no seio das várias áreas de Expressão Artística – 3º ciclo e Secundário

Não pretendendo realizar um panorama exaustivo da presença do teatro/expressão dramática no currículo formal dos jovens portugueses convém referir a breve experiência pedagógica da disciplina de Opção de Teatro no 9º Ano surgida nos finais da década de 70 a par da existência dos muitos clubes de teatro espalhados pelas escolas. A par da presença obrigatória de disciplinas de Educação Visual, era oferecida ainda a opção de Artes Plásticas no 9º Ano largamente implantada nas escolas acompanhada de múltiplos clubes dentro da área, desde a fotografia à azulejaria. A Música embora pudesse igualmente ser oferecida como disciplina de opção teve pouca expressão existindo no entanto alguns clubes em funcionamento. Este panorama face à música ficou a dever-se sobretudo à falta de docentes especializados e, na quase totalidade, à sua integração nos quadros do 2º Ciclo onde a disciplina de Educação Musical é obrigatória. A Dança assinalava a sua presença nalguns clubes de escola, maioritariamente na perspectiva das danças tradicionais e em larga escala dinamizados por Professores de Educação Física.

Já no final da década de 80, com a generalização da Reforma que entre outras coisas alargou a escolaridade básica para nove anos, no âmbito do ensino secundário criou-se o Agrupamento de Artes (exclusivamente ligado às Artes Visuais) e em 1989 a Oficina de Expressão Dramática e a Oficina de Artes que após mais de uma década de funcionamento se viram extintas com a nova Reforma do Secundário.
Criaram-se igualmente alguns cursos tecnológicos de carácter pré-profissionalizante, (exp. Animação social ) predominantemente vocacionados para a entrada na vida activa,
Onde as áreas de expressão artística marcaram presença.

Com as alterações curriculares introduzidas em 2001 nomeadamente através da elaboração das Competências Essenciais para a Educação Básica, novos espaços se abriram no seio do currículo formal do 3º Ciclo, para as áreas artísticas. Assim sendo, num ciclo de estudos de 3 anos (7º, 8º e 9º) onde até então, apenas as artes plásticas se encontravam representadas no currículo, passou a ser possível oferecer aos alunos uma segunda área de expressão artística de oferta de escola. Para tal elaboraram-se Orientações Curriculares para 3 novas disciplinas: Música; Dança e Oficina de Teatro.
No projecto de reforma do Ensino Secundário, foi proposto um curso de Artes do Espectáculo de que ainda não se sabe os contornos. Até ao momento apenas existe com presença consistente a área das Artes Visuais.

A FORMAÇÃO DOS PROFESSORES DE TEATRO

Será oportuno abrir um espaço de reflexão sobre a formação de professores na área do teatro / expressão dramática, quer no que concerne à formação inicial de docentes especialistas na área e à sua situação profissional, quer no que toca à formação contínua de docentes de outras áreas de conhecimento, mas que por imperativos do sistema escolar, se encontram responsáveis pela docência da Oficina de Teatro no Ensino Básico ou a desenvolver projectos de índole teatral na escola.

Convém relembrar aqui, no pós 25 de Abril de 1974, o importante papel desempenhado pela oferta de “movimento e drama” nos cursos de formação de professores, inicialmente nos antigos magistérios primários e posteriormente nas Escolas Superiores de Educação que viriam a gerar um movimento sem paralelo em prole da Expressão Dramática, traduzido na criação da A.P.E.D. com a realização de importantes Encontros de nível internacional e mais tarde com os “Encontros de Teatro na Escola”

Os docentes destas áreas eram oriundos quase exclusivamente de duas escolas (Escola de Teatro e Escola de Educação pela Arte) sedeadas na mesma instituição, o Conservatório Nacional.
Apresentamos, um panorama não exaustivo da oferta da formação institucional de nível superior (Universidades e Institutos Politécnicos) em Teatro/Expressão Dramática na Educação com saídas profissionais previstas para a educação, que neste momento é disponibilizada em Portugal e que nos poderá levar a concluir que afinal existe já uma oferta diversificada e relativamente distribuída geograficamente tendo em conta a dimensão do país, contrastando com a situação existente nos finais da década de 80.
Temos assim ao nível de licenciatura a oferta de 5 cursos específicos : Licenciatura em Estudos Teatrais da Universidade de Évora; Licenciatura em Teatro e Educação da E.S.E. do Instituto Politécnico de Coimbra; Licenciatura em Teatro da Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha, do Instituto Politécnico de Leiria; Licenciatura em Teatro – Ramo de Teatro e Educação da Escola Superior de Teatro e Cinema do Instituto Politécnico de Lisboa; Licenciatura em Teatro e Artes Performativas da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
Convém ainda relembrar a existência de formação institucional técnico-vocacional nos domínios da formação de actores, da realização plástica do espectáculo, de técnicas de iluminação e som, de gestão e produção do espectáculo e ainda de estudos teatrais, oferecida quer ao nível 3 da formação profissional quer ao nível de bacharelato e licenciatura.

Se analisarmos o que se passa ao nível da formação ao longo da vida temos que levar em linha de conta dois tipos de formação distinta:
Aquela que provem da frequência de longa duração (2/3/4 semestres) de estudos especializados ou pós graduados, promovidos por instituições de Ensino Superior, em que se encontram formandos oriundos da área do teatro ou de outras áreas e por outro lado aquela que provem da frequência de acções de formação (de 25 a 50 horas) promovida por Centros de Formação acreditados pelo Conselho Coordenador da Formação Contínua.


Quanto aos estudos especializados ou pós graduados, promovidos por instituições de Ensino Superior através da análise dos dados constata-se que desde o inicio da década de 90, inúmeros CESES permitiram a muitos professores generalistas a obtenção de grau de licenciado, contemplando a formação nas várias áreas de educação artística. Em 1994 com a criação do CESE em Teatro e Educação na Escola Superior de Teatro e Cinema (que pela primeira vez cruzou experiências e saberes de formandos oriundos do teatro com formandos já diplomados noutras áreas do saber, mas com experiência teatral ) tem-se vindo a assistir a um crescimento da oferta pós-graduada um pouco por todo o país. São exemplo disso os Mestrados da Faculdade de Letras e o da Universidade do Algarve e as pós-graduações no Instituto Politécnico do Porto.

No que se refere à oferta de formação contínua na área do teatro, para os docentes do Ensino Básico, tendo em conta os dados divulgados pelo Conselho Coordenador da Formação Contínua, do conjunto de acções creditadas para serem realizadas até 2007, constata-se que existe uma tendência de oferta de pelo menos uma acção de formação nesta área por Centro de Formação, sendo neste momento 525 os Centros de Formação com acções creditadas até 2007.
Constatámos que não sendo considerada um eixo prioritário de formação, largamente suplantada por outros tipos de oferta, continua a existir formação contínua na área e equilibradamente distribuída a nível nacional.
Na sua maioria as acções são dirigidas a docentes de todos os níveis de ensino: Educadores de Infância e Professores dos Ensinos Básico e Secundário
Assiste-se a uma grande diferença de horas de formação indo das 25 horas -1 crédito até 150 horas – 6 créditos

É evidente que nada nos assegura que pelo facto de uma acção de formação em teatro/expressão dramática constar da extensa lista de formação disponibilizada por determinado Centro de Formação, se venha a realizar.
Acresce ainda que as recentes medidas de congelamento de progressão nas carreiras do pessoal docente e a indefinição de linhas orientadoras da formação contínua junto dos Centros de Formação irão por certo afectar estas áreas de formação.


Questões que se colocam ao desenvolvimento profissional dos professores de Teatro / Expressão Dramática

Ausência de área ou grupo disciplinar das áreas artísticas performativas
Necessitamos nesta altura de ter em consideração que os docentes oriundos da formação inicial de nível superior em teatro, mesmo que com habilitação própria e estágio pedagógico ( como acontece com os licenciados em Estudos Teatrais – Via Ensino da Universidade de Évora) estão impedidos de concorrer à docência da Oficina de Teatro, por esta não estar disponível para concurso nacional e não existir um grupo disciplinar específico.

A disciplina é de opção e oferta de escola, existindo ainda um normativo tendente a que a oferta da disciplina tenha em conta a existência de docentes efectivos da escola que a queiram dar. Estas medidas são em maior ou menor grau escrupulosamente cumpridas pelas Direcções Regionais de Educação.
Os docentes diplomados com habilitação específica na área do Teatro que ainda se encontram nalgumas escolas, podem ser comparados a “pequenos peixes ainda não apanhados pelas malhas da rede”.

Rede escolar
Não se dispõe de dados fiáveis quanto ao número dos que se encontram nesta situação. Há já alguns anos, em 1997, através de dados incompletos recolhidos pela APED, nesta situação situavam-se sensivelmente 120 docentes, maioritariamente ligados à disciplina de O.E.D. no Ensino Secundário, criada no âmbito da Reforma Curricular em 90/91. Em 2003 através de um levantamento levado a efeito junto das Direcções Regionais de Educação existiam 95 escolas com oferta de O.E.D.
Hoje, extinta a disciplina de O.E.D (raríssimas excepções ocorrem com a oferta da disciplina no 12º Ano), e segundo dados das diferentes D.R.E. existem mais de 150 escolas com oferta de Oficina de Teatro no 3º Ciclo, no entanto este número pode ser mais elevado

Formação docente
No início das O.E.D (s) e já anteriormente para a opção de teatro no 9º Ano dos Cursos Unificados, se recorria maioritariamente a profissionais do teatro sem experiência pedagógica.
Desde aí, um pouco por todo o país, várias instituições de Ensino Superior , como já constatámos, têm vindo a lançar no terreno profissionais qualificados, o que sugere uma notória desarticulação entre o Ensino Superior (criação de cursos especializados em Teatro e Educação) e a orientação das políticas educativas na reestruturação do Ensino Básico e Secundário, não só através da extinção progressiva das O.E.D(s) e da suspensão do arranque do Curso Geral das Artes do Espectáculo, previstos pela Nova Reforma do Ensino Secundário, mas também através das dificuldades colocadas pelas Direcções Regionais de Educação às escolas, no que concerne à autorização de abertura da Oficina de Teatro no Ensino Básico, fazendo-a depender da existência de um docente da escola, habilitado ou não em Teatro, que queira assegurar a docência da disciplina.
Excepcionalmente as escolas conseguem recrutar docentes especializados através do recuso a concursos locais.
Da experiência concreta do caso da Licenciatura em Estudos Teatrais que tenho vindo a acompanhar desde o início, constato que praticamente todos os diplomados estão apesar destas condicionantes, a leccionar Oficina de Teatro ou/e O.E.D. de uma forma precária, nunca sabendo no final do ano lectivo se o seu trabalho terá continuidade.




Isabel Bezelga

21.4.06

Teatro@Escola - a urgência de uma definição programática Carlos Fragateiro



É para mim um exercício extremamente desafiador poder hoje reflectir sobre a articulação entre a teatro e a escola, eu que fui durante tanto tempo actor do lado da escola, e hoje estou à frente de uma instituição como o Teatro Nacional que pode ter um papel determinante em todo o processo de reinvenção do que deve ser uma articulação intime entre o teatro e a escola.
Para desenvolver algumas pistas de reflexão vou seguir resumidamente um artigo que publiquei há algum tempo e que se chama “O Teatro ou a Utopia da Unidade do Conhecimento”. E faço-o porque é estou hoje consciente de que é o teatro uma das linguagens estratégicas para criar espaços multidisciplinares e de projecto no interior das escolas, para criar pontes entre a escola e as comunidades, para ligar de uma forma intensa os grandes criadores e inventores sociais que são os cientistas, os artistas e os filósofos.
Como afirma Crozier (1985) « nous devons absolument libérer les initiatives et les capacités d´innovation au lieu de les freiner pour mieux répartir la pénurie.” Como todos estamos conscientes hoje habitamos uma época que está a passar por um acelerado e profundo processo de transformação, um processo que nos confronta, em directo e ao vivo, com situações cada vez mais complexas, com um verdadeiro choque do futuro, onde a nossa sobrevivência enquanto homens e enquanto estrutura social nos obriga a reencontrarmo-nos connosco próprios e com os outros e a ter uma relação de prazer com o espaço que habitamos e o mundo físico que nos rodeia. Na verdade necessitamos de um modelo de desenvolvimento que tenha uma forte dimensão cultural capaz de se afirmar como instrumento de libertação, como algo que é inseparável da vida quotidiana, e que por isso mesmo não se limite ao universo das obras de arte e das humanidades, à acumulação de obras e conhecimentos que uma elite produz, recolhe e conserva para os tornar acessíveis a todos, devendo ser, antes de mais, aquisição de conhecimentos, exigência de um modo de vida, necessidade de comunicação.
A intervenção cultural é aqui entendida como espaço de criação de um destino pessoal e criativo que deve assumir o seu pleno significado e dimensão, tanto na perspectiva de antídoto para as crises, como na de espaço privilegiado de invenção de um mundo diferente onde o desenvolvimento apareça como inseparável da realização de todo o homem e de todos os homens, na sua liberdade e autonomia, na qualidade das relações que estabelecem e na capacidade de se situarem no mundo e de participarem em tudo aquilo que diz respeito à sua vida. Por isso mesmo o combate por um projecto cultural numa perspectiva de desenvolvimento não se situará só nos aparelhos culturais, devendo passar por todos os poros e interstícios da vida quotidiana, única forma de podermos ter esperança que a cultura seja um elemento capaz de mudar, ao mesmo tempo, a sociedade e a vida. A arte deve encontrar a rua e a cultura deve encontrar a vida quotidiana, uma perspectiva que põe em causa os lugares e instituições culturais e, sobretudo, reafirma a recusa da divisão entre uma minoria de especialistas que reservam para si o monopólio da criação artística e uma massa de puros receptores de produtos artísticos. Trata-se de recriar a ideia da criatividade generalizada e permanente de todos, onde o único sentido da acção cultural será o de ajudar a criatividade a encontrar os seus meios de expressão, sendo assim a arte e a cultura repostas ao lado do quotidiano e do existencial.

A Pessoa como Finalidade Central

Falamos de um processo de desenvolvimento que deve ter a pessoa como sua finalidade central, uma pessoa preparada para responder aos desafios de uma sociedade cada vez mais complexa que desafia os nossos métodos tradicionais de análise e de acção e nos obriga a ter de encontrar um outro quadro de referências e outros instrumentos de análise. Hoje começa a haver uma tomada efectiva de consciência de que o défice principal com que nos confrontamos a nível social é o do pensamento, da inteligência, ou melhor, um défice da capacidade de invenção de outros modos de vida, de um mundo onde valha a pena viver, e que é neste domínio que se criam as primeiras diferenças sociais, com alguns, os eleitos, a serem motivados desde meninos a desenvolverem a sua capacidade de pensar, e os outros, a grande maioria, a serem convencidos de que não vale a pena pensar porque não são capazes, porque têm falta de inteligência. E a inteligência é um músculo que se treina desde sempre, ou, então, tal como acontece com os músculos que não são utilizados, atrofia-se, perde as suas funções vitais, levando a que hoje muita gente, mesmo muita gente, tenha os neurónios atrofiados, sem funções efectivas, não consiga nem queira pensar. E o grande drama social é que podemos passar uma vida inteira sem tomarmos consciência desta incapacidade porque, por um lado, não é visível à vista desarmada, e, por outro, porque no quotidiano somos muito pouco incentivados a ter ideias, a utilizar os mecanismos do pensamento.

O Teatro como Instrumento Unidade do Conhecimento

Neste processo de afirmação da cultura como principal referência de um projecto de desenvolvimento que tenha o homem no centro das suas preocupações, o teatro, enquanto espaço privilegiado do sensível onde a pessoa tem condições para se descobrir e afirmar em toda a sua dimensão, deve dirigir e potenciar os seus focos de intervenção para as dimensões sociais que, em cada momento, separam mais cada pessoa de si própria, alargam o fosso entre aqueles que pensam e decidem e os que executam e constroem, deve ser o espaço do encontro e da troca, o espaço da solidariedade e da mestiçagem por excelência. Enquanto prática que tem como terreno de acção a própria vida, é o teatro um dos instrumentos privilegiados da prática social de onde podem emergir algumas das respostas às questões colocadas por aqueles que, nas diferentes áreas do saber, têm consciência que a actual fragmentação e especialização do conhecimento científico tem forçado o homem a abandonar o seu desejo de unidade do conhecimento, impedindo-o, porque não lhe é devolvida uma imagem unitária do mundo em que vive, de construir uma teoria unificada no interior da qual possa encontrar pontos firmes de referência para a compreensão da sua própria condição. O teatro deve pois ser um espaço e um tempo privilegiado de troca com o outro ou os outros, exigindo que cada um dos seus actores, ao mesmo tempo que são fieis a si próprios e que acreditam naquilo que fazem, a guardar fielmente o espírito de que a verdade está sempre noutro lado e a trabalhar em permanência sobre os movimentos contraditórios com que nos confrontamos no nosso quotidiano. Uma ideia e um sentido estratégico que dá ao teatro a capacidade única, neste mundo cada vez mais redutor e a preto e branco, de mostrar uma visão estereoscópica do mundo e da vida, de substituir um ponto de vista único por uma multiplicidade de perspectivas, assumindo-se na prática como o espaço por excelência de revelação da realidade social em toda a sua profundidade e diversidade, como o espaço privilegiado onde emergem, se tornam visíveis e ganham forma os movimentos contraditórios que em permanência atravessam o nosso quotidiano social.
A função principal das práticas teatrais no interior de cada estrutura social é assim a de descobrir relações ou ligações entre as áreas do saber, provocando encontros, motivando projectos e inventando novas práticas, assumindo-se aqui o teatro como um espaço de interface, de cruzamento, onde se abrem pontes de comunicação e se desafiam esses saberes a encontrarem-se no próprio processo de criação teatral. A intervenção do teatro terá um papel privilegiado no reforço dos traços de união e no estímulo a todo o tipo de trocas e de contaminação entre as áreas de conhecimento e na criação de projectos de fronteira, assumindo-se como um laboratório onde seja possível fazer a ponte em permanência entre o passado e o presente, entre a arte e as tecnologias, entre as diferentes áreas do conhecimento, como um forum de discussão, debate e construção de conhecimento. Os homens do teatro são uma espécie de caçadores furtivos que, servindo-se do que têm à mão, procuram em todas as áreas o que pode ser útil e operacionalizam, no fazer, saberes e métodos de todas as disciplinas.
O assumir desta dimensão de interface para o teatro obriga-nos a encontrar no interior das suas práticas teóricas um quadro de referência que permita que o teatro seja, por um lado, o espaço que desafia as várias áreas do saber a trabalharem em conjunto e a cruzarem os seus saberes e, por outro, o espaço de produção ficcional que dá corpo e produz o pensamento resultante dessa inter penetração. Quadro teórico esse que deve integrar, para além das reflexões que hoje perspectivam as práticas teóricas emergentes tanto ao nível do teatro como da sociedade, o conjunto de eixos de reflexão que actualmente se desenvolvem no campo da filosofia e da ciência, áreas de excelência do pensamento emergente neste início de milénio. Se hoje há uma consciência clara de que já se inventou quase tudo ao nível das formas, é altura de darmos um novo reenquadramento aos conteúdos com que trabalhamos, e esses só os podemos descobrir se mergulharmos nos domínios centrais do pensamento contemporâneo que são os da filosofia e da ciência.

Um Teatro Didáctico e/ou de Intervenção

Se nos países em vias de desenvolvimento se utilizaram e utilizam os instrumentos e a linguagem teatral para lançar campanhas de informação e de prevenção ao nível dos temas primários, porque é que no interior dos chamados países desenvolvidos não poderemos utilizar os mesmos instrumentos e a mesma linguagem, a do teatro, para lançar toda uma campanha de agitação e desafio nos domínios da inteligência e da imaginação?
Falamos naturalmente do retomar da ideia de um Teatro Didáctico e/ou de Intervenção, de um teatro que conte histórias fantásticas onde o único limite seja o infinito, histórias com capacidade de despertar e alimentar o imaginário de cada espectador e de o motivar a desenvolver as suas capacidades de associação e de descoberta, a resolver enigmas e a responder a problemas a que é necessário dar resposta para que as histórias avancem e os conflitos se resolvam. Uma prática teatral que seja capaz de confrontar os espectadores com histórias e personagens que têm a procura da invenção como objecto central do seu percurso, histórias que mostrem como essa capacidade de invenção é fundamental para o desenvolvimento do ser humano, de todos os seres humanos. No fundo, estamos à procura de uma prática teatral que conte histórias que nos emocionem, de um teatro que provoque e obrigue a trabalhar o cérebro, de um teatro que seja o Alcoitão dos neurónios, de um teatro capaz de ser um espaço privilegiado para a cerebroterapia.

Uma Prática Teatral Outra

É neste quadro que afirmamos ser necessário olhar para a criação artística a partir de uma outra perspectiva, com um olhar que a pense não como repositório das antiguidades, mas como um espaço capaz de produzir acontecimentos artísticos que agitem os neurónios, obrigando tanto os intérpretes como os espectadores a olhar, a pensar e a intervir no mundo a partir de um outro quadro de referência. Falamos necessariamente de uma prática que não pode ficar limitada ao interior dos teatros, tem necessidade e urgência de se articular com os parceiros e as estruturas sociais da comunidade onde se inserem e nesta perspectiva o teatro pode também vir a ter um papel determinante, o que implica que se crie uma dinâmica de circulação entre o interior das estruturas de criação teatral e os parceiros e as estruturas sociais implicadas nos projectos de inovação.
O Teatro acaba por ganhar neste contexto um papel estratégico no processo de reinvenção social, pois é um dos poucos espaços actualmente existentes de comunhão e de encontro de cada um consigo próprio e com os outros, espaços que foram desaparecendo nesta sociedade do consumo e do espectáculo e que são vitais para a afirmação da nossa condição de seres humanos que têm direito a existir para além do número e do papel que lhes foi ou é atribuído. Uma prática teatral que traz a pessoa para o centro do processo de criação e a confronta com personagens e situações desconhecidas, num percurso que leva à procura e ao encontro com o outro que é também o eu e ao despertar em cada um de capacidades até então adormecidas ou desconhecidas. Um teatro que se quer afirmar como espaço da condição humana, onde cada pessoa é incentivada a desenvolver as suas capacidades de pensar e de inventar o seu quotidiano social e de aí intervir activamente.

Um espaço da condição humana

Assumimos aqui a ideia de um teatro que produza espectáculos capazes de motivar cada espectador a iniciar uma viagem ao interior de si próprio, uma prática teatral capaz de tornar o teatro num efectivo espaço de comunhão e de encontro de cada um consigo próprio e com os outros, espaços que a sociedade do espectáculo e do consumo foi fazendo desaparecer e que temos necessidade de reinventar. Procuramos criações teatrais que tenham força e energia para despoletar todo um processo de reflexão sobre a nossa condição de seres humanos que têm direito a existir para além do número e do papel que lhes foi ou é atribuído na engrenagem de que é feita esta sociedade do consumo e do espectáculo. Falamos naturalmente de uma prática teatral que traz a pessoa para o centro dos processos de mudança e a confronta com personagens e situações desconhecidas capazes de despertarem em cada um capacidades adormecidas ou desconhecidas, num processo que nos leva à procura e ao encontro com o outro que é também o eu.
Estamos a falar de uma abordagem que, ao nível da criação teatral e da produção de espectáculos, se estrutura no interior de dois movimentos: o primeiro é o movimento das forças que entravam funções e atitudes essenciais da nossa humanidade e que, quando aprisionam alguém, o reduzem em definitivo a uma outra vida, forças que se constituem em obstáculos e limitações nascidas no interior de cada um ou a nível social; o outro movimento é o irresistível desejo de lutar pela condição humana que existe em cada ser pessoa. Efectivamente, o espaço de comunhão de que falamos só se poderá desenvolver integralmente se se tornarem visíveis e se se perceberem os constrangimentos e as tendências negativas existentes na sociedade para aprisionar o homem e o impedir de se afirmar integralmente, em suma, para condicionar o seu desenvolvimento. Da mesma forma há que tornar visíveis as longas lutas que se travam para contrariar essa tendência.
O teatro tem assim que dar visibilidade aos movimentos e às tendências sociais que impedem que o homem se afirme em toda a sua plenitude, funcionando neste caso como um espaço de denúncia e alerta para a sociedade, e, ao mesmo tempo, como antídoto para essa tendência de oprimir e manipular as pessoas ao abrir espaços aos projectos onde cada pessoa tenha as condições essenciais para ser actor da sua própria história, para se afirmar integralmente.

O espaço do pensamento e da invenção

Em segundo lugar queremos uma prática teatral que conte histórias fantásticas onde o único limite seja o infinito, histórias com capacidade de despertar e alimentar o imaginário de cada espectador e de o motivar a desenvolver as suas capacidades de associação e de descoberta de relações inesperadas, a resolver enigmas e a responder a problemas a que é necessário dar resposta para que as histórias avancem e os conflitos se resolvam. Uma prática teatral que seja ainda capaz de nos confrontar com percursos de personagens ou de obras de excelência que tenham a capacidade de invenção como objecto central pelo qual lutam, percursos e histórias que mostrem como essa capacidade de invenção é fundamental para o desenvolvimento do ser humano, de todos os seres humanos. No fundo, queremos uma prática teatral capaz de produzir espectáculos que estimulem a inteligência, que contem histórias e coloquem problemas e questões que provoquem o funcionamento dos neurónios e incentivem a produção de pensamento.

A intervenção social

A terceira dimensão é necessariamente uma dimensão social, onde a criação teatral é o espaço por excelência de análise e reencontro com a história e com os movimentos sociais que determinaram a sua evolução. Espaço onde se cruzam as histórias da história com as preocupações, os anseios e os desafios que a cada momento atravessam as sociedades, cruzamento esse que permite trabalhar ao nível prospectivo.

Teatro@Escola
Como?

Pensando e inventando todo um sistema de circulação entre a escola e os centros de criação teatral/artística e as comunidades, um sistema que nunca feche o teatro dentro das limitações de mais uma disciplina de um modelo de escola que há muito está acabado, mas sim como um espaço de encontro, uma rotunda, uma área escola onde as várias árias do conhecimento se podem encontrar, onde a globalidade do conhecimento é possível.
Mas isto só o poderemos fazer se nos libertarmos dos corporativismos disciplinares e de percebermos e assumirmos que o teatro é uma das linguagens mais ricas que o homem e a sociedade tem à sua disposição, uma linguagem para abrir e não fechar, uma linguagem para ajudar a reinventar a escola e não a ajudar a manter uma escola que já não tem sentido de existir.
E para isso é necessário termos consciência de que jogando o tempo a nosso favor, é fundamental não nos deixarmos encantar pela possibilidade de maia dúzia de lugares sem futuro, mas sim lutar pelo lugar central que o teatro pode vir a ter como espaço privilegiada de interface entre a Cultura e a Educação.

27 de Março de 2006
Carlos Fragateiro



Comentários
  • Caro Sr. Fragateiro,
    Pela incendiada “conversa” que aqui nos trouxe, presumo estar perante o Nero Lusitano. Efectivamente, de jogos palacianos é V. Exª Mestre, ou melhor, Imperador!
    Temo, pois, se o Teatro não se transformar rapidamente, a partir desta ocidental praia, para alcançar os tão altos desígnios que lhe vaticina (certamente por informação do seu xamã), V. Exª incendiará os teatros que dirige e depois todos os outros. Ou o Teatro se transforma nas visões que o senhor Fragateiro sonhou ou então não há teatro.
    E o teatro na escola só pode ser, também, aquilo que o sr. Fragateiro quer que seja o teatro na escola. Para que há Ministério da Educação, Núcleos de Ensino Artístico, Cursos de Ensino Artístico, Professores de Ensino Artístico, Ministros da Educação, etc., etc., se existe o sr. Fragateiro e o seu clã que continua a mandar na educação artística e na expressão dramática nas escolas.
    “Corporativismo disciplinar”, sr. Fragateiro? Agora que os seus amigos da APED estão bem na vida, com altos cargos, e não precisam de trabucar a contratos e a desemprego nas escolas do Básico e Secundário?!
    E que bem fica a um director do Teatro Nacional, nomeado pela sra. Ministra da Cultura do actual governo ( certamente a conselho do xamã da dita) afirmar que o sistema de ensino do SEU GOVERNO é um “ modelo de escola que há muito está acabado” e que só o teatro o poderá salvar (cá para mim, o seu xamã informou-o que vão reunir os ministérios da educação e da cultura e V. Exª. deve achar-se com perfil para o cargo).

    Mas quem irá fazer essa revolução das escolas do séc. XXI? Quem irá lançar a pedagogia Fragateiriana do “teatro como unidade de todo o conhecimento” por Portugal e por todo o Mundo? Pelo que sabemos, não defende que sejam professores de artes. Serão de novo a sua meia dúzia de amigos, mas sem corporativismo, claro, que vão levar a revolução teatral às milhares de escolas do país? Pelo que lhes conheço, têm “arcaboiço” para isso. Se lhes pagarem ordenados ainda mais churudos, claro está.

    BANDARRA
    Um que chegou a acreditar em si e que continua a acreditar no teatro nas escolas. Vive mal, mas com dignidade.

    P.S.1: Há pouco raciocinei mal. Arderão todos os teatros, menos os que V.Exª , sem concurso e com inúmeras acumulações dirige (ou não fosse génio), claro está porque nestes é que estará o verdadeiro teatro, o teatro do futuro, e, fundamentalmente para V. Exª poder continuar a auferir os seus riquinhos ordenados.

    PS2. Já que escarrapacharam o ordenado do apunhalado seu antecessor do D. Maria em tudo o que era comunicação social, porque não publica, também, o muito que aufere com as suas muitas e variadas comendas?

    P.S.3: Não é só nas Câmaras Municipais e nas Regiões Autónomas que há caciques.

    By Bandarra, at 12:59 AM

  • Meu caro:
    Com esta é que me vi à nora...
    Não pela surpresa. Mas porque as minhas limitações intelectuais, confesso, não me permitem entender algumas coisas.
    Vejamos: Tive que ler três vezes A Náusea do senhor Jean-Paul Sartre, até conseguir compreender o que ele nos queria comunicar. A tua carta, porém, depois de a haver relido umas dez, é-me mais difícil e penosa. Fiquei, portanto, a zeros.
    É certo que todos, felizmente, evoluímos. E que a linha de pensamento que hoje desenvolves nada tem a ver com a dos escritos que publicaste nos cadernos da - penso eu - extinta Associação Portuguesa de Expressão Dramática (APED). Linha essa aliás, provavelmente desconhecida dos que são mais jovens e que não passaram por essas aventuras e lutas por um ensino artístico de qualidade...
    Respeito, por isso, qualquer opinião. Mas, para haver opinião, é preciso saber-se, primeiramente, algo sobre aquilo em que se opina. E creio que a raiz da minha incompreensão se encontra no facto de eu ter conhecimento de facto do que é uma escola secundária - e tu, não. Vantagem para cá!, como dizia o Vasco Santana.
    Não concordo. Mas aceito que haja quem transporte consigo opiniões diferentes. Mesmo que considere incompreensíveis. Faz parte da minha cultura, da minha educação, enfim; das minhas convicções.
    Aceito – ponto final.
    Mas, peço desculpa, não aceito (à luz dos mesmos princípios) aquilo que entendo como um insulto.
    De facto, não aceito qualquer insinuação por mais ténue que seja de que estou envolvido numa acção corporativa. Ou seja: não posso admitir que alguém venha insinuar que pactuo com interesses obscuros que fazem, ainda, parte da nossa memória colectiva. Pelo menos, os da minha geração.
    Nem, tão pouco, que faço parte integrante de um qualquer lobby. Os pouco mais de mil euros do ordenado com que sou obrigado a viver são meros trocos para os que deles fazem parte.
    O sentimento que me provocou a tua carta foi, por estranho que te possa parecer, o de profunda indignação. E, já agora, de náusea.
    Sem outro assunto de momento,
    as minhas cordiais saudações

    M. A. Sousa

    By Manuel, at 2:10 PM

  • O que mais me agrada no Sr. Fragateiro é a sua capacidade de se plagiar a si próprio. Outros comentários para quê?

    By Anonymous, at 3:39 PM

  • O que me faz confusão é que este senhor, segundo me foi dito, fez ou participou na feitura de um programa (OED do Secundário) que até é bom (muito bom ao lado das merdas que nos dão para o ensino básico). Que se passa afinal? O homem ficou de repente possuído pelo tal chamã que esse Bandarra fala?
    Vamos lá entender o que se passa na cabeça dos "padrinhos" da expressão dramática.

    By Anonymous, at 5:25 PM

  • Pois é. Fazemos todos parte desse tal corporativismo... somos todos doutros tempos - mais obscuros, mais... e, talvez por isso, mal pagos e sempre na esperança de não sermos metidos no olho da rua por um qualquer Fragateiro. Sempre na esperança de voltarmos a ser contratados por mais um ano, enfim...

    Sim, senhor prof. Dr. e Director de dois teatros do estado. Somos burros. Deveriamos era bajular VExa. e em troca termos como prémio um bom tacho. Deveriamo-nos deixar de corporativismos e abraçar definitivamente um lobby. Coisa mais moderna, enfim...

    Já agora gostaria também, como diz o Bandarra, de ver publicos os seus rendimentos. É possível?
    Apenas por mera curiosidade. Justificável, aliás, uma vez que os portugueses (todos) andam hà anos a fazer sacrifícios para salvar o país da tanga... e, além disso, é sempre bonito ver como o estado recompensa os seus servidores.
    agradeço pois.

    RITA

    By RITA, at 7:43 PM

  • Depois de reler os comentários não pude deixar de voltar a intervir. Desculpe o colega M A Sousa, mas o texto do senhor professor não é tão complicado assim. Direi mesmo que peca pela simplicidade. Uma redacção sufrível, e coisa pouco bonita para um Prof. Dr.; cita-se a si próprio.

    Rita (outra vez)

    By RITA, at 8:00 PM

  • Ao senhor anónimo.

    Estas coisas dos comentários levam sempre a afastarmo-nos do texto inicial…

    O sr. anónimo mostra-se maravilhado com o programa de OED que, segundo parece, aplicou aos seus alunos e muito desapontado com o programa de Oficina de Teatro do Básico que, segundo parece, ministra aos seus alunos.
    Pois eu também fui professor de OED e, desde que foi introduzida no Básico, de O.T.

    Sobre o programa de OED, eu não concordo nada com o anónimo.
    Basta saber alguma coisa das “lides” para ver que dos três blocos iniciais ( que nunca foi possível aplicar integralmente pela questão que o anónimo deve bem saber) são de distintas castas. O primeiro é “autónomo” e completamente distinto dos dois últimos. O primeiro está, obviamente, dentro do que se entendeu chamar expressão dramática, os outros dois são um curseco de teatro tradicional (quero dizer práticas de fazer o teatro já ultrapassadas e sem grande sentido numa opção generalista que se queria aberta a várias áreas artísticas: teatro, dança, cinema e até artes plásticas).

    Ora eu considero que o primeiro Bloco de OED é uma pérola e os outros dois são quase uma porcaria.

    O primeiro bloco abre sugestões, aprendizagens várias, para uma forma de criação que, baseando-se na expressão/comunicação dos “instrumentos” do corpo queria ir muito para além do mero texto teatro (literário) que surge explicitamente nos blocos dois e três. Quer dizer, o primeiro bloco conduziria às formas de criação teatrais e afins contemporâneas, baseadas num trabalho de criação colectiva e na mesclagem de várias artes de que podemos ver exemplo em acções performativas com o uso das novas tecnologias, desde o vídeo, sintetizadores, computador, dança, artes plásticas, textos literários e não literários, etc., etc.. Alguns dos professores de OED, o meu caso, furaram o sr. Fragateiro e as “memorizações de Shakespeare, Lope de Veja, Gil Vicente…” (in programa), e tentaram induzir criação através da expressão dramática (presumo que saiba o que é) e não dos textos literários, que era o que apontava o bloco I e os princípios iniciais da Oficina.

    O Bloco 2 e 3 são a morte deste projecto amplo e pluridisciplinar, aberto a docentes de várias áreas artísticas, em paridade, para o reduzir, como disse, a um bafiento curso de teatro literário.

    É isso que o senhor anónimo acha um óptimo programa de OED?

    E quem matou o projecto inicial que se vislumbra no bloco I?
    Obviamente, O sr. TODO PODEROSO, Carlos Fragateiro, que elaborou, UNICAMENTE, os blocos II e III. Que como disse, não são Expressão Dramática, são teatro literário. Imagine o que faria um professor de OED, formado em dança (houve várias) com os dois blocos de teatro “rústico” do sr. Fragateiro. Furava-o, e não fazia mais que a sua lúcida obrigação
    .
    Seria com o programa do sr. Fragateiro que os alunos ficariam aptos a fazerem opções, na prossecução de estudos como se previa na introdução, na área de teatro, dança e cinema? Ou ficariam só aptos para “história do teatro”?
    Ou será que o sr. Fragateiro quis arranjar um programa para os seus amigos, que nada percebiam de expressão dramática e artes performativas, se safarem a dar aulas de OED?

    Diz o anónimo que os programas de O.T. do Básico são uma MERDA, pois eu reafirmo que os blocos II e III de OED, que o anónimo adora, é que são uma quase porcaria.

    Porque é que muitos dos actuais professores de Oficina de Teatro chamam merda aos actuais programas e adoram os programas de OED do sr. Fragateiro?

    A resposta é muito simples. Porque não percebem nada de expressão dramática. E os programas do básico não dão soluções canhestras para quem não sabe nada do ofício, mas pensa que sabe.

    O sr. Fragateiro dava-lhes peças de teatro, textos dos dramaturgos, para os senhores professores de moral, química, matemática, história, português, português…, fazerem as suas encenaçõezinhas. Os programas do básico não lhe dá essa possibilidade.Ou se sabe ou não se sabe. E a maioria não sabe nada de expressão dramática, de criação grupal, de espaço, de ritmo, de projectos pesquisa sem fim para todos verem, etc, etc.

    As centenas de professores de expressão dramática sem formação é que precisam de se AGARRAR a um programa que lhe legitime a sua ignorância no mister.

    Sistema de ensino há, em que é o professor que segundo objectivos gerais faz o programa. Os programas do Básico dão liberdade ao professor de afirmar o seu modo próprio e de “rentabilizar” a sua formação.

    Reafirmo. O programa de O.T. não impede um professor de expressão dramática, com a devida formação de dar aulas de qualidade, atrapalha sim aqueles que sem a devida formação, no qual deve estar o anónimo, pois não percebem minimamente a terminologia, as linguagens o alcance das linhas que o mesmo encerra e o modo de os operacionalizar ( que não podem ser aprendidos nos livros nem nas récitas dos amadores).

    Era no caso da Oficina de Teatro que eu mais adoraria ver as centenas de professores impostores do país prestarem provas públicas (práticas, claro está), para admissão ao ensino da disciplina. Obviamente, se o presidente do júri não for o sr. Fragateiro.

    Bandarra

    By Bandarra, at 12:22 PM




13.2.06

APROTED - Carta de Princípios

A Associação de Professores de Teatro Educação norteará a sua actividade pelos seguintes princípios:


1. Lutar pela implementação do Teatro Educação/Expressão Dramática, como disciplina curricular, em todos os ciclos e níveis de ensino do Sistema Educativo Português.

2. Promover iniciativas com o objectivo de divulgar e demonstrar as potencialidades do Teatro Educação/Expressão Dramática enquanto instrumento pedagógico-educativo fundamental para a formação do aluno.

3. Eleger o Teatro Educação/Expressão Dramática como uma disciplina com características técnico-artísticas e pedagógicas próprias, que a diferenciam de outras áreas teatrais, e que exige uma formação académica específica.

4. Promover a dignificação do estatuto do professor de Teatro Educação/Expressão Dramática no meio escolar, exigindo do Ministério da Educação a criação de um Grupo Disciplinar de Teatro Educação que enquadre os docentes ao nível das habilitações académicas, competências técnico-artísticas e pedagógicas, exigidas para leccionar, bem como da progressão na carreira, à semelhança do que acontece com os docentes das demais áreas disciplinares.

5. Lutar para que o trabalho de qualidade desenvolvido na área do Teatro Educação, ao longo de muitos anos, por professores dos Quadros de Escola, seja avaliado e reconhecido pelo M. E., permitindo a estes docentes, se o desejarem, a transição para o Grupo Disciplina de Teatro Educação.

6. Em prol da qualidade do ensino e da justiça na contratação de docentes, defender a criação de um Concurso Nacional para contratação de professores das disciplinas curriculares da área de Teatro Educação, que estabeleça critérios específicos para a graduação dos professores candidatos, dando prioridade aos que tenham formação académica de base na área de Teatro Educação e respectiva profissionalização através de Estágio Pedagógico em estabelecimento de ensino do Ministério da Educação.

7. Procurar que todos horários das disciplinas da área de Teatro Educação sejam sujeitos a concurso público, impedindo que o teatro nas escolas continue a ser leccionado por “curiosos” ou seja usado como mero expediente de docentes de outras áreas disciplinares alcançarem tempo de serviço, ou da administração escolar preencher horários “zero”, num manifesto desprezo e subalternização da arte na educação.

8. Lutar pela extinção dos concursos por Oferta de Escola para a contratação de docentes da área de Teatro Educação, vistos os critérios exigidos pela generalidade dos órgãos de gestão, serem arbitrários, contraditórios, injustos, e protegerem interesses pessoais, em vez de proporcionarem a escolha dos docentes com habilitação mais apropriada para a leccionação da disciplina.


9. Sensibilizar os órgãos de gestão das escolas, enquanto não for criado um Concurso Nacional ou definidos critérios específicos pelo M.E, para seguirem pressupostos pedagógicos e defenderem a qualidade do ensino, dando prioridade na contratação aos candidatos que apresentam qualificações académicas de base na área do Teatro Educação e respectiva profissionalização através de Estágio Pedagógico.

10. Denunciar publicamente e incentivar os prejudicados a impugnar os concursos em que professores com habilitação profissional na área do Teatro Educação são preteridos por professores sem qualificações ou com qualificações inferiores, ou no caso dos horários serem atribuídos sem concurso público.

11. Fazer um levantamento das escolas portuguesas que ofereçam a disciplina de Oficina de Teatro do 3º Ciclo do E. Básico, o Curso Tecnológico de Acção Social, que desenvolvam projectos próprios: teatrotecas, clubes de teatro, disciplina de oferta própria, bem como as escolas que regularmente ofereciam a OED do Secundário, antes da sua extinção, de modo a possibilitar uma colaboração mais eficaz com essas escolas.

12. Incentivar as escolas que não têm oferta artística na área do Teatro Educação a disponibilizá-la aos seus alunos, e às que a têm de forma reduzida, a intensificá-la.

13. Sensibilizar o M.E. e os órgãos de gestão das escolas para, progressivamente, irem construindo ou afectando salas, com carácter definitivo, para a prática do Teatro Educação, de modo que seja possível leccionar a disciplina com as condições mínimas exigíveis.

14. Divulgar a oferta formativa, de nível académico, na área do Teatro Educação, em Portugal e no estrangeiro.

15. Estabelecer contacto com universidades e outros estabelecimentos de ensino superior ou politécnico portugueses de forma a aumentar a oferta e estabelecer currículos mínimos comuns para os cursos da área de Teatro Educação, quer ao nível técnico-artístico, quer pedagógico.

16. Incentivar, junto dos responsáveis dos cursos de Teatro Educação, a reflexão e investigação sobre esta área específica, bem como a divulgação dos trabalhos de qualidade realizados nestas instituições.

17. Exigir aos responsáveis dos cursos de Teatro Educação e aos reitores das respectivas universidades que assumam as suas responsabilidades e pressionem o Ministério da Educação no sentido de serem dadas as mesmas oportunidades aos professores formados nestes cursos, relativamente a todos os outros docentes saídos dos diversos cursos da via ensino.


18. Promover e enaltecer as práticas do Teatro Educação/Expressão Dramática em projectos de educação, animação e integração sócio-cultural, nomeadamente junto das câmaras municipais, juntas de freguesia, associações culturais e de moradores, Ministério da Cultura, Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social, bem como dos governos das regiões autónomas dos Açores e da Madeira ou outras que venham a ser constituídas.

19. Estabelecer conversações com as associações representativas dos cidadãos com deficiência e com as instituições que colaboram na sua formação, de forma que o Teatro Educação possa contribuir para a integração social e profissional dessas pessoas.

20. Organizar, promover e participar em encontros de professores de Teatro Educação.

21. Estabelecer intercâmbios com outras associações congéneres, portuguesas ou estrangeiras, que se dediquem à divulgação, incremento e investigação das práticas do Teatro Educação.

22. Apoiar a criação e divulgar o trabalho de grupos, companhias ou projectos de intervenção direccionados para o Teatro Educação.

23. Divulgar ofertas de trabalho, concursos do M. E. ou outros, aos seus associados.


24. Criar estruturas e as parcerias necessárias para a publicação, periódica, de uma revista sob a temática Teatro Educação, bem como apoiar a publicação, por parte de associados, de trabalhos relevantes nesta área.

25. Divulgar as actividades da APROTED, bem como, artigos, trabalhos, obras, encontros, conferências, cursos, acções de formação, entre outros, relacionados com o Teatro Educação através de uma página própria na Internet.

COMENTÁRIOS
Foi com satisfação e, confesso, alguma surpresa que vi chegar à escola um professor contratado para leccionar a opção de teatro do nono ano.
Já lá vão muitos anos...
Satisfação porque havia aquela vontade de articular o texto com a representação (coisas de professores de português...), surpresa por ver que afinal a acção do "professor especialista" levava os "meninos" para outros voos mais criativos, levava-os a uma outra forma de ver as coisas e tudo isto, pasme-se (pasmava-me eu), pela via do jogo, do lúdico.
Fui levada a questionar tudo o que fizera antes na sala de aula, a querer perceber o porquê de tudo aquilo...
Depois assisti à evolução natural, num trabalho mais aprofundado em regime de Oficinas de Expressão Dramática. Quando era possível pedia ao colega para assistir às suas aulas e ele dizia: - Só se participares.
E participei ao lado dos alunos. Era divertido mas era, sobretudo, muito sério... brincar, jogar é muito importante.
Mas os nossos governantes não percebem. Nunca perceberam.
Foi com satisfação que vos descobri na internet. E foi com mágoa que percebi que as Oficinas de Expressão Dramática do secundário já morreram. Que os professores especialistas continuam a trabalhar por contrato...
Que voltámos para trás.
que voltámos ao tempo do professor faz-tudo mesmo que não saiba fazer.

O faz-tudo / faz-de-conta.

Muita sorte para o vosso projecto!...
Maria Adelaide ex professora de português-francês (reformada)

TEATRO na EDUCAÇÃO - Firmino Bernardo

Garrett dizia que “o teatro é um excelente meio de civilização, mas não prospera onde não a há”. A primeira parte da frase mostra-nos que o Teatro deveria ter um papel privilegiado nas escolas. A segunda parte mostra-nos por que é que o Ministério da Educação se esquece dele.
Esquecer talvez não seja a palavra certa, até porque será fácil encontrar muitas referências à Expressão Dramática em várias “declarações de intenções” do Ministério. O problema é que as medidas concretas insistem em contradizer as intenções. Por exemplo, o Documento Orientador da Reforma do Ensino Secundário de David Justino, que acabou com a Expressão Dramática no Ensino Secundário Regular, contém frases quase poéticas sobre a importância das artes na Educação.
Acabada a Expressão Dramática no Ensino Secundário, resta-nos a Oficina de Teatro no 3º Ciclo. Para quem não sabe como funciona, nada melhor que fazer um resumo.
No 3º Ciclo, as escolas têm de ter uma disciplina na área artística, que pode ser Dança, Música, Teatro ou “outra qualquer”. A grande maioria das escolas opta por “outra qualquer”. Conheço até uma escola que optou por uma disciplina igual à Educação Visual (que os alunos já têm), mas com outro nome, para o descaramento não ser muito grande.
Felizmente, há escolas com outras opções. Seja como for, a disciplina escolhida é semestral, leccionada uma vez por semana. Para a equipa do Ministério da Educação, é mais do que suficiente. Na cabeça deles, em Dança, aprende-se umas coreografias a partir dos videoclips dos D’ ZRT, em Música, aprende-se a cantar o “Atirei o Pau ao Gato” e em teatro, dá-se uns saltos, veste-se umas fatiotas e debita-se umas frases.
Para as escolas que optam por Oficina de Teatro, como é que o Ministério escolhe os professores? É simples. Escolhe os professores efectivos, de qualquer disciplina, com horário zero ou incompleto. Se tiver feito umas coisitas lá no grupo amador da Casa do Povo, está mais que apto para ser o “ensaiador” dos putos. Procura-se uns exercícios nuns livritos, uns textos para uma récita, umas fatiotas para a festa de Natal e completa-se mais um horário.
Mas, se tiver mesmo que ser, se não houver nenhuma alternativa, contrata-se um professor especializado, só por um ano. Mas, atenção. A escola só pode abrir o concurso depois de pedir autorização ao Sr. Secretário de Estado, que isso da Autonomia é muito bonito, mas é só para o que convém. Claro que o Senhor Secretário de Estado não autoriza o concurso cedo demais, porque é necessário dar a entender que o caso tem de ser estudado à exaustão e, se por acaso os alunos só começarem a ter a disciplina em Novembro, sempre são dois meses de salário que o Estado poupa.
Alguns destes professores contratados até têm uma licenciatura específica para o efeito, com formação teatral e formação pedagógica, são profissionalizados e tudo, os pobrezinhos. Não têm é grupo de docência, senão até se corria o risco de terem um concurso normal e ficarem à frente de quem não tem formação, e isso o Ministério não pode permitir, que o Estado está gordo e na Educação é que é preciso poupar.
Entre 6 a 10 de Março, no Centro Cultural de Belém, decorrerá uma conferência Internacional sobre a Educação Artística, organizada pela UNESCO. Não faltarão as Ministras da Educação e da Cultura, com discursos vagos, mas bonitos, fingindo-se muito interessadas com estas questões. Não faltarão aplausos acríticos. Os mais atentos notarão que elas não fazem ideia do que é a Educação Artística, o que de resto até é coerente com a ignorância noutros campos dos respectivos ministérios.
No fundo, temos os políticos que merecemos. Habituámo-los de tal forma a receber aplausos quando anunciam medidas que nem sentem necessidade de as pôr em prática. Talvez devêssemos mudar de atitude. Da próxima vez que ouvirmos um político anunciar intenções, em vez de aplaudirmos, dizemos em coro: “E está à espera de quê?”.
Firmino Bernardo

educar... PARA AS ARTES YEEEEE! in Canalizador das Almas

Tomamos conhecimento (através dos pasquins do burgo) de que em Lisboa se realizou a 1.ª Conferência Mundial sobre Educação Artística, organizada pela UNESCO. Disseram eles que para um debate (caloroso) sobre a importância da educação na área das Artes.
Essa Conferência Mundial sobre Educação Artística - Centro Cultural de Belém - conta, ou contou, com a participação de professores, investigadores e "peritos ligados ao ensino das práticas artísticas" (vejam só... tanto perito neste país e ninguém sabia), como artes visuais, performativas (... e a performance chegou ao ensino no país do sr. silva?), dança, música, teatro, escrita criativa e poesia (oh la la). A iniciativa pretendia (neste país onde se acabou com tudo o que é arte no ensino) promover o papel das Artes no desenvolvimento humano (vejam só), nomeadamente a criatividade no ensino das práticas artísticas nas escolas (espantemo-nos todos), sobretudo aos alunos mais desfavorecidos social e economicamente (oh!...). Ficamos a saber que este molhinho de boas intenções culturais e artísticas (e não só) dos organizadores só pode ficar por ali (pelo CCB - para bem dos peritos, na escola é uma maçada). e os senhores que frequentaram o evento e deram muitas opiniões (para além de se pavonearem pelos corredores) foram precisamente os mesmos que acharam que era o momento de acabar com as oficinas de artes e de expressão dramática no ensino secundário. Ora bem:... Num país onde o ensino artístico é um enorme zero, onde os professores com formação artística não têm espaço na escola, onde o ensino secundário é um deserto, sem uma única disciplina de educação estética, e onde, qualquer professor com horário zero pode leccionar a nova disciplina de teatro no ensino básico (para quê formação artística, vai-se a uma conferência e pronto. já está)... estas conferências sobre arte na educação devem dar muita tusa...(?)
In: http://www.canalizadordasalmas.blogspot.com